sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A conexidade entre a psicomotricidade e a abordagem humanista

1 INTRODUÇÃO

A psicomotricidade é uma ferramenta que auxilia no desenvolvimento psicopedagógico do sujeito, uma vez que desenvolve o repertorio motor e cognitivo, facilitando na aprendizagem do mesmo. Já a abordagem humanista rogeriana ressalta a importância do ensino centrado no aluno com liberdade para melhor desenvolvimento.
Tanto a psicomotricidade relacional quanto a abordagem humanista rogeriana destacam vários pontos em comum referente ao método de aprendizagem do sujeito, do outro e do meio.
A integração dos métodos citados, agregados a um único método facilitador gera um comparativo dos seus pontos em comum criando uma visão positiva sobre a união das duas temáticas.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Definições

Conforme a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade – 2009 (SBP, 2009), “a psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo”.
Assim, podemos entender que a psicomotricidade estuda o homem através da linguagem corporal, fazendo a relação entre o sujeito, o meio interno e externo no qual ele vive e interage.
Para Mizukami, (1986)

A proposta rogeriana (abordagem humanista) é identificada como representativa da psicologia humanista, a denominada terceira força da psicologia. O “ensino centrado no aluno” é derivado da teoria, também rogeriana da ênfase sobre a personalidade e conduta. (...) onde a abordagem dá ênfase às relações interpessoais e ao crescimento que delas resulta, centrado no desenvolvimento da personalidade do indivíduo, em seu processo de construção e organização pessoal da realidade, e em sua capacidade de atuar, como uma pessoa integrada. (p.37)

Desta forma percebemos que a aprendizagem e centrada única e diretamente no sujeito, fazendo com que suas vivencias sirvam de ferramentas para a iniciação de uma reconstrução da aprendizagem global.
Com isso, a proposta rogeriana pode servir como base psicopedagógica para a aplicação da psicomotricidade no sujeito, pois, as duas visam à construção e reconstrução do homem, utilizando-se de suas vivencias para promover o desenvolvimento global do sujeito, mas nunca esquecendo que todo ser é único e por isso respeitando suas individualidades.
Com base nessas definições consegue-se destacar que o enfoque desse ensino-aprendizagem é o aluno/homem. E que gira em torno deste sujeito os métodos aqui aplicados, para uma evolução interna e externa deste individuo.
Mizukami (1986) nos diz que:
O mundo é algo produzido pelo homem diante de si mesmo. O homem é o seu configurador, que faz com que ele se historicize: é o mundo, o projeto humano em relação a outros homens e as coisas que ganham historicidade numa temporalidade. O mundo teria o papel fundamental de criar condições de expressão para a pessoa, cuja tarefa vital consiste no pleno desenvolvimento de seu potencial inerente. (p.41)

Assim, para o desenvolvimento pleno do sujeito é necessário a interação com o outro e com o meio, construindo e reconstruindo seus conceitos e os tornando mais concreto o desenvolvimento das capacidades físicas e mentais do individuo.
Para Alves (2007),

A psicomotricidade serve como ferramenta para todas as áreas de estudo voltadas para organização afetiva, motora, social e intelectual do individuo acreditando que homem é um ser ativo capaz de se conhecer cada vez mais e de se adaptar as diferentes situações e ambientes. (p.137)

Com isso, a psicomotricidade torna concreta todas às experiências vivenciadas pelo sujeito, o deixando conhecer-se e adaptar-se ao outro e ao meio.
Desta forma, o método pedagógico aplicado e a pratica da psicomotricidade se interligam formando um processo pedagógico dinâmico e com liberdade para a reconstrução do sujeito, assim interagindo de forma livre com seu meio interno e externo, promovendo seu desenvolvimento global, complementando o repertorio de vivencias do mesmo.
Para Mizukami (1986)

Na terminologia rogeriana, o homem é o “arquiteto de si mesmo”. É consciente da sua incompletude tanto no que se refere ao mundo interior quanto ao mundo exterior, ao mesmo tempo em que sabe que é um ser em transformação e um agente transformador da realidade. (p.41)

Com isso percebemos que o sujeito esta sempre em transformação, visto que tem consciência que seu mundo esta sempre em constantes mudanças, transformações e construções. E isso, a busca de novos conhecimentos é necessária para a reconstrução do sujeito global.
Assim podemos entender que a psicomotricidade centra seu estudo no homem, em seus movimentos com relação ao mundo, e a constante transformação do sujeito. Já a abordagem humanista nos traz sua visão do ensino ser centrado neste sujeito, que esta em constante transformação. Por isso, a psicomotricidade e a abordagem humanista se interligam, transformando o sujeito em “sujeito/aluno”.

2.2 Métodos

Na visão de Negrine (2002) a psicomotricidade tem como objetivo estabelecer estratégias de ação como impulso a exteriorização do aluno por diferentes vocabulários (lingüístico, gestual, motriz, etc.). Sendo necessário ter a convicção que o desenvolvimento humano resulta em processos evolutivos (interno) e de aprendizagem (externo).
Para Mizukami (1986)
Na abordagem humanista o professor em si não transmite conteúdo, dá assistência, sendo um facilitador da aprendizagem. O conteúdo advém das próprias experiências dos alunos. A atividade é considerada um processo natural que se realiza através da interação com o meio. O conteúdo da educação deveria consistir em experiências que o aluno reconstrói. O professor não ensina: apenas cria condições para que os alunos aprendam. (p. 38)

Por isso, o professor deixa de ser o detentor do conhecimento e se torna o mediador entre o aluno/sujeito e o conhecimento, servindo de referencia para possíveis necessidades que possa surgir. Este conhecimento é adquirido de forma concreta, utilizando-se da bagagem vivenciada para base da construção de sua aprendizagem, interligando informações, formulando e reformulando conceitos.
Negrine (2002) afirma que,

O ato pedagógico, fundamentalmente, a psicomotricidade relacional que se serve da ação do brincar como estratégia pedagógica, ou seja, quando se dá liberdade para a criança criar seus jogos e realizar o que gostaria, estar-se-á estimulando, de certa forma, o emergir do mundo simbólico. Nesse caso, a preocupação do professor não deve ser a de tentar decifrar suas representações, mas estimulá-la a vivenciar muitos e, posteriormente, provocar a verbalização dos papeis por ela vivenciados. Quando se dá liberdade para a criança atuar num determinado espaço e tempo, determinando os limites, fica fácil de perceber as diferenças entre os movimentos técnicos e simbólicos. (p.75)

Nesse sentido, podemos afirmar que ação do brincar interfere diretamente no desenvolvimento físico e cognitivo do sujeito, interferindo diretamente nas transformações físico-mental, propiciando assim o desenvolvimento sadio do corpo e mente.
Para Mizukami (1986),

Na abordagem humanista dá-se ênfase a relações interpessoais e ao crescimento que delas resulta, centrado no desenvolvimento da personalidade do indivíduo, em seus processos de construção e organização pessoal da realidade, e em sua capacidade de atuar, como uma pessoa integrada. Dá-se igualmente ênfase a vida psicológica e emocional do indivíduo e a preocupação com a sua orientação interna, com o autoconceito, com o desenvolvimento de uma visão autentica de si mesmo, orientada para realidade individual e grupal. (p.37)

Assim se torna claro a ênfase na formação e consolidação da identidade do sujeito, tornando-o um ser único e consciente de sua constante transformação.
Alves (2007) acredita que,

A psicomotricidade favorece a aprendizagem quando reconhece que diferentes fatores de ordem física, psíquica e sociocultural atuam em conjunto para que se dê a aprendizagem. Trabalhando no ser humano, cada uma das consciências do mundo e com o que está ao seu redor. Proporcionando ao individuo a capacidade de ser, ter, aprender a fazer e a fazer, na medida em que se reconhece por inteiro, alcançando a organização e o equilíbrio das relações com os diferentes meios e a sua distinção. Relacionando-se com o mundo de forma equilibrada. (p.136)

Com isso, torna-se claro que o processo de aprendizagem proporciona ao sujeito uma visão contextualizada de si e do mundo.
Isso faz com que a abordagem humanista e a psicomotricidade além de dar prioridade ao sujeito, preocupa-se com o autoconhecimento para que tenha subsídios para uma aprendizagem mais consolidada.

2.3 Papel do Professor/Facilitador

Para Rogers (1972- p.105-6), “A facilitação da aprendizagem baseia-se em certas qualidades de comportamentos que ocorrem no relacionamento pessoal entre facilitador e o aprendiz”. Isso mostra que o facilitador e o aprendiz necessitam gerar vínculos afetivos para a potencialização do aprendizado.
Negrine (2002) destaca que,

Deve-se ressaltar, no trabalho da psicomotricidade, o papel do professor, que se ao invés de ensinar, de transmitir conhecimentos já estabelecidos, assumir o papel de facilitador do desenvolvimento da capacidade de aprender, dando a criança tempo para suas próprias descobertas, oferecendo situações e estímulos cada vez mais variados, proporcionando experiências concertas e plenamente vividas com o corpo inteiro, não deixar que sejam transmitidas apenas verbalmente, para que ela própria possa construir seu desenvolvimento global. (p.136)

Por isso a psicomotricidade consegue trabalhar o desenvolvimento físico e cognitivo, oferecendo situações e estímulos para propiciar a verbalização da atividade pelo facilitador e a concretização do sujeito por meio do corpo em movimento.
Segundo Wulf apud Justos (1987 – p.134), “O professor não ensina: procura facilitar ao aluno a aprendizagem: o aluno está em primeiro plano, e não o conteúdo da aprendizagem.” Nesse sentido torna-se claro que o conhecimento deixa de ser uma reprodução, iniciando assim a construção do conhecimento. A partir desse momento o detentor do conhecimento (professor), passa a ser um facilitador/mediador.
A psicomotricidade na visão de Negrine (2002) idealiza um ambiente que oportunize experiências variadas, desde o nascimento, mas para isso devem-se ter profissionais qualificados para atuar como mediadores/facilitadores, assim, aumentando a possibilidade de capacitar pessoas com perfil diferenciado.


3 CONCLUSÃO
Após este estudo, percebemos que a individualidade do sujeito é complexa, com características únicas, sendo assim impossível de conseguir formular uma metodologia padrão. Porém com a liberdade exposta pela psicomotricidade e a abordagem humanista enfatizando o sujeito como o centro de todo o caminho para aprendizagem, torna-se interessante interligar os dois métodos, sendo respectivamente a prática do desenvolvimento global do sujeito e a teoria para o entendimento do mesmo.
Ao falar de psicomotricidade e abordagem humanista conseguimos destacar muitos pontos em comum, pois, conseguem ter a sensibilidade de união do sujeito com si, com o outro e com o meio utilizando-se de sua bagagem vivenciada para construção de conhecimento mais consolidado.
Alves (2007-p. 138), “Para poder educar o homem, é preciso que o ensinemos a dominar sua própria consciência e corpo com senso de equilíbrio.”
Por meio desse estudo sugere-se que esta consciência pode ser obtida por meio da psicomotricidade e da abordagem humanista, utilizando-a como ferramenta prática da construção do sujeito mais humano.



REFERENCIAIS

ALVES, Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. 3º ed. RJ: Wak, 2007.
http://www.psicomotricidade.com.br/apsicomotricidade.htm - 17/08/2009 - 20:37
JUSTOS, Henrique.Cresça e faça crescer: Carl Rogers.5º ed. Canoas: La Salle, 1987.
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo, SP: EPU, 1986.
NEGRINE, Airton. Corpo na educação infantil. Caxias do Sul: EDUCS, 2002.
ROGERS, C. Liberdade para aprender. 2º ed. Tradução Belo Horizonte: Interlivros, 1972.

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PCN de Educação Infantil (1998),

As instituições devem assegurar e valorizar, em seu cotidiano, jogos motores e brincadeiras que contemplem a progressiva coordenação dos movimentos e o equilíbrio das crianças. Os jogos motores de regras trazem também a oportunidade de aprendizagens sociais, pois ao jogar as crianças aprendem a competir, a colaborar umas com as outras, a combinar e a respeitar regras. (p.131)